O que tu queres sei eu!
Guilherme dos Santos Gomes, 18.03.23
Se Deus criou o Homem à sua imagem, mas a espécie humana evoluiu, um Cristão Darwinista admite que Deus é um macaco...
Hoje, estou particularmente irritado com a Humanidade. Estou cansado do Homem, esse bichinho álacre e sedento de focinho pontiagudo, num perpétuo movimento... Por isso, não há altura melhor para pensar parvas prácticas perpetradas por pessoas, também elas muito parvas! Desta feita, trago a debate (serei só eu a falar, mas chamemos-lhe debate, que é para ser mais democrático) o tema “Como ler as horas”. Pode parecer uma coisa mundana e desinteressante (e, para todos os efeitos, é), mas é um assunto bastante dado a discórdia!
Antes de mais, temos que abordar o “elefante na sala”, que são aquelas pessoas que não arredondam as horas. É assim, eu sei que os relógios digitais permitem saber as horas ao segundo, mas na realidade ninguém quer saber o tempo exacto quando o pergunta a outro alguém. Salvo raras excepções, quando precisamos de chegar a um sítio a um horário definido, ou quando perguntamos realmente a alguém as horas certas, um arrendondamentozinho basta-nos! As pessoas que teimam em dizer coisas do género “Não são seis e vinte e cinco, são dezoito e vinte e três!” são aquelas que se acham superiores e muito inteligentes, mas na realidade estão só a ser umas filhas da mãe de umas mesquinhas! Não tentem parecer intelectuais porque dizem as horas correctamente. Ninguém gosta de vocês, OK? O que vocês devem fazer para tornar a ser aceites no seio da sociedade é seguir as seguintes regras de leitura do tempo. Um relógio pode ser um item cuja compreensão é algo complexa, mas eu vou tentar simplificar a vossa vida com um sintético guia práctico.
Primeiro, foquemo-nos nas horas: assim como num relógio tradicional, na oralidade só se devem referir os números de 1 até 12. Na primeira metade do dia, creio não haver problemas no entendimento. Na segunda, é também bastante simples. No fundo, é como se considerássemos as 12 horas sendo zero, e começamos novamente do 1 a partir daí. “Ah, mas isso não pode confundir as pessoas?”. À partida, não, porque creio haver diferenças óbvias entre as 4 da manhã e as 4 da tarde. Nesta enunciação, só há duas excepções, para as horas que correspondem ao número 12 do relógio. Nestas, o que se faz é, se ainda for de dia, dizer “meio-dia”, visto esta corresponder mesmo à metade do período de 24 horas que compõem um dia. Se já for de noite, diz-se “meia-noite”, apesar de esta nunca corresponder precisamente ao meio da noite. É uma questão de linguagem!
De seguida, falemos nos minutos. Neste campo, só devem ser referidas meias-dezenas ou dezenas completas, isto é, 5, 10, 15, 20, por aí adiante. O critério para decidir se devemos dizer 5 ou 10 é simplesmente o dos arredondamentos. Num período de dez minutos, se o algarismo das unidades for 1 ou 2, arredonda-se para a dezena anterior. Se for 4, 5 ou 6, arredonda-se para a meia-dezena. Se for 8 ou 9, arredonda-se para a dezena seguinte. No caso dos números 3 e 7, por se encontrarem precisamente na metade de cada período de 5 minutos, há uma certa flexibilidade no critério, mas tendencialmente deve-se arredondar para cima, isto é, para a meia-dezena e para a dezena seguinte, respectivamente. Quanto às excepções, temos os 15 minutos, que se devem dizer como “um quarto” e os 30, que devem ser referidos como “meia” (como é dito, e bem, na música “Rolar No Chão” d’Os Afonsinhos Do Condado).
Para além disto, outro problema se põe, que é o das horas e tal e o das horas menos tal. Até aos 30 minutos de uma hora, está tudo bem, diz-se o tempo correctamente (exemplo: duas e vinte e cinco). A partir daqui, o que se faz é descontar minutos à hora seguinte. Se são 16:50h, diz-se “cinco menos dez”. Se são 11:45h, diz-se “meio-dia menos um quarto”. O princípio é bastante simples, o que é preciso é práctica.
Basicamente, são estas as regras. Se as seguirem, acreditem que a vossa vida ficará consideravelmente melhor e mais fácil. Antes de me ir, talvez deva explicar a relação que o título desta crónica tem com o seu conteúdo, para quem não apanhou. No fundo, trata-se de uma referência a um popular sketch dos Gato Fedorento, em que uma senhora interpela o personagem de Ricardo Araújo Pereira na rua para lhe perguntar as horas, e este responde com “O que tu queres sei eu!”. Era isso... Até para a semana!