Cacharolete de irritações acerca de música alta em público
Guilherme dos Santos Gomes, 29.04.23
Então não é que os Espanhóis têm um verbo próprio para definir o acto de aplicar papel-de-parede? "Empapelar"! Espectacular! Sendo, de uma forma geral, um povo subdesenvolvido, há certas coisas em que nos ultrapassa!
Estou, finalmente, de volta. Depois de duas semanas sem ouvirem falar de mim, eis o meu regresso. Sei que não devem ter sido fáceis, estes 15 dias, mas o pequeno hiato que fiz foi necessário. Primeiro, porque andei altamente atarefado, numa autêntica roda-viva, e não consegui parar para escrever um singelo texto. Depois, porque senti que estava a precisar de umas férias disto. Porque andar 43 semanas consecutivas a inventar porcaria não é propriamente fácil! Devo recordar as famosas recaídas do mês de Novembro, em que foram publicadas duas crónicas sem conteúdo algum (e não me venham com coisas, a dizer que “Ah, elas já não costumam ter conteúdo, normalmente!”), as famigeradas “Nada em Lado Nenhum em Tempo Algum” e “A gerência responsabiliza-se pelos danos causados...”. Isto é assim, recaídas acontecem o tempo todo, mas uso-as como prova de que fazer isto não é tão simples como pode aparentar. O processo criativo tem as suas coisas. Bom, estão prestadas as declarações. Não tinha que o fazer, mas valorizo-vos e senti-me na obrigação. Vamos, se calhar, para o conteúdo do... coiso...
Esta semana, venho investir violentamente contra uma situação! “Qual situação?”, perguntais vós com essa curiosidade que vos é tão característica. E eu respondo: aquela situação em que nós vamos a andar na rua e passa um carro, normalmente velho e tunado com, ou um, ou cinco marmanjos lá dentro, a bombar música forte e feio! Se tu és uma destas pessoas, eu odeio-te! “Ai, que eu sou bué jovem e bué rebelde, por isso vou tocar música tipo bué alta, yah?”. Pois, porque tu és um iluminado! O teu gosto musical deve ser vastamente difundido e as canções que escutas passadas de geração em geração! Ninguém mais sabe ouvir música para além de ti! Cá para mim devias ser condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique, pelos serviços que prestas à cultura no nosso país! Nem sei o que faríamos sem ti para nos mostrar o que é música a sério, pá! Obrigado por nos dares a conhecer o “Super Mega Hiper Fantastic Summer Mega Techno Super Deluxe Remix 2017”! Porque eles conseguem a proeza de tocar a pior música que existe à face da Terra! É sempre um Techno rasca, mesmo música de ginásio, e eles conseguem ouvi-lo com aparente agrado! Aliás, ouvir é capaz de ser coisa que não se faz, num carro destes. O basqueiro deve ser tanto que a dada altura só deve ser possível escutar uma espécie de um ruído de feedback! Mas eles lá vão, todos contentes, a abanar o capacete! Há até um sketch muito giro dos Gato Fedorento que parodia esta dinâmica: vê-se um carro, muito ao fundo, cheio de gajos a abanar o capacete, lá está, mas ao som de quê? De um padre a rezar o Terço! Se isto não é de génio, então não sei o que é.
Pior que estes gajos, só mesmo aqueles que vão nos transportes públicos a passar Funk brasileiro aos altos berros! Acham-se muitos jovens, também, é? Tão giros, com as calças com uns fundilhos pelos tornozelos, umas camisolas desportivas muito largas, um cabelo com as laterais cortadas a pente 0 e a sobrancelha aparada, mesmo à gangster! Querem que eu vos conte um segredo? Vocês não são fixes! São só ridículos e ninguém gosta de vocês! A “música” que vocês passam é horrível! Preferia furar os tímpanos com uma caneta do que ter que ouvir essa batida mais um segundo! Sejam pessoas decentes, peguem nos fonezinhos e metam-nos nos ouvidos, se não for pedir muito! Obrigado.
No fundo, era isto que eu tinha para vocês, na minha rentrée... Já se tinham esquecido da falta de qualidade disto, não é? Andavam para aí iludidos, por causa da saudade, e agora ficaram frustrados. Não vos queria estar a deixar assim... Ah, já sei! Tenho uma ideia para vocês porem em prática: a partir de agora, sempre que virem um dos espécimes de que falei hoje, gritem-lhes “És o maior!”, mas num tom profundamente sarcástico. Acabem-lhes com o gostinho de cometer os actos que cometem! Até para a semana!