Questo Obrigado
Guilherme dos Santos Gomes, 11.07.24
Quando eu andava no 7.° ano, a minha catequista (porque sim, eu andava na catequese... blhec!) colocou-me a questão do porquê de nós nascermos. Eu não hesitei em responder "Para morrer." (eu era uma criança muito pessimista!). Ela não gostou nada da resposta, e retorquiu, algo chateada, dizendo que "Nós nascemos para sermos eternos!".
No entanto, a reacção dela despontou algo em mim. Fiquei fascinado com a maneira como as minhas palavras tinham potencial para causar impacto nas pessoas, fosse de que forma fosse. Escusado será dizer que, nas semanas que se seguiram, de todas as vezes que ela fazia aquela pergunta, a minha resposta voltava a ser "Para morrer.", porque queria tornar a saborear aquele espasmo mental que eu lhe conseguia provocar.
Pouco tempo depois - e para bem - deixei de ir à catequese, mas aquele bichinho não me saiu da cabeça. Junto dos meus colegas, amigos e familiares, continuei a minha análise acerca da forma como simples palavras têm a capacidade de gerar algo nas pessoas. Algumas vezes risos, outras embaraço, outras mesmo irritação. Mas o certo é que eu era capaz de o fazer, finalmente sentira que havia um propósito para o meu nascimento: eu podia não ser nenhum Messias (até porque Messias não existem!), mas sentia que tinha o dever de fazer do Mundo um lugar melhor ou, na impossibilidade disso, fazer o dia de quem me rodeava mais feliz, através de uma gargalhada!
Infelizmente, por vezes, acabámos por nos passar a perna a nós mesmos. Alguns anos passados, e eu comecei a pensar que talvez eu fosse só isto: um bôbo da corte, destinado apenas a fazer rir os outros, mas nunca a si mesmo. Vi-me num buraco do qual não conseguia sair, um fosso de dúvidas e incertezas acerca da minha própria existência. Seria uma pessoa... ou apenas um fantoche, gentilmente manipulado de forma a agradar e a ser amado por todos? Eu, que sempre me apresentava com a maior alegria e vivacidade do Mundo, estava a deixar de saber distinguir a minha identidade da máscara que habilmente tinha construído para mostrar aos outros que não era preciso ter medo, e que a vida nos sorri se sorrirmos para ela! O problema é que eu estava cansado de sorrir...
Foi numa epifania que eu decidi criar um blogue e começar a escrever coisas, o que me ia no coração, acerca das mais variadas situações da vida, da morte... vá, e dos impostos! Comecei a perceber, novamente, o quão libertador é poder expressar-me da forma que realmente queria, sem qualquer pudor ou imposição: aquela era a minha casa, a minha mente em aberto. Era a Psique de Guilherme!
Hoje, este pequeno recanto na blogosfera, perdido pelo meio de tanto que há para ver num Mundo digital que nunca mais acaba, completa o seu 2° ano de existência. Nunca esperei, digo-o de coração, conseguir apelar tão bem a tanta gente que lê o que escrevo e ouve o que digo. Afinal, este era eu, não a máscara que usava para sair à rua e me dar ao Mundo! De alguma forma, aquilo que me tinha deitado abaixo e deixado na lama estava a ser, também, a cura das minhas inquietações! E, sinceramente, eu sentia-me cada vez melhor com isso.
Entretanto, talvez motivado por isto tudo, foram surgindo inúmeras oportunidades de eu me mostrar em vários certames, em várias ocasiões. Já me dei a conhecer como actor, declamador, poeta, guionista... até cantor, vejam lá! Foram (e continuam a ser), sem dúvida, experiências fantásticas, e não posso deixar de estar grato a todas as pessoas que alguma vez se lembraram do meu nome e me chamaram para isto e para aquilo. Mas a verdade é que, no final do dia, eu gosto sempre é de voltar a este sítio, à minha casa, porque é aqui que me sinto mesmo bem. E é, também, daqui, que eu consigo continuar a fazer o dia das pessoas um bocadinho melhor, deixando-as levar um pouco de mim com elas...
Bom, talvez a minha catequista tivesse razão. Se calhar, é mesmo para sermos eternos...