Trabalhos de Casa #15: "O Sol e a Chuva"
Guilherme dos Santos Gomes, 07.10.23
Muito bom dia, gente linda, gente boa do meu coração! Cá estamos, mais uma vez, em mais uma semana de crónicas daquelas mesmo boas. Pfff... Quem é que eu quero enganar? Não, isto não é a “Coisa Que Não Edifica Nem Destrói” do Ricardo Araújo Pereira! É a Psique de Guilherme... Na realidade, trata-se do episódio de estreia da segunda temporada da rubrica favorita da Psique: os “Trabalhos de Casa”! Uh! Espectacular! Não é espectacular... É medianozinho, vá! É só muito mais ou menos, mais p’ra mal do que p’ra bem! É um pequeno pólo de entretenimento no meio deste imenso oceano que é a Internet, é certo, mas isso também os vídeos de adolescentes a comer cápsulas de detergente Finish no TikTok! O público, decerto, não será o mesmo, mas acaba por cair um bocado na mesma categoria! Dito isto, vamos começar esta pândega! Entrego-vos, nesta volta dos Trabalhos de Casa, o texto que escrevi no dia não-sei-quantos de Fevereiro de 2016, no âmbito da já tão conhecida série “Onde me leva a imaginação”, “O Sol e a Chuva”:
Era uma vez o Sol que tinha uma amiga Nuvem. Um dia eles estavam a descansar quando apareceu o filho da Nuvem a chover e triste. O Sol perguntou:
_ O que se passa pequenote?_ Mas ele não respondeu. O Sol voltou a perguntar:
_ O que se passa pequenote?_ Mas ele não respondeu novamente. Desta vez o Sol perguntou à Chuva o que se passava. Ela respondeu:
_ É que o rapaz nasceu ontem e ainda não tinha chovido. Como hoje ele ficou cheio de água, assustou-se e começou a chover. Eu posso ser testemunha disso!
_ Obrigado por me esclareceres. Queres ser minha amiga?_ disse o Sol. A chuva respondeu:
_ É claro que quero ser tua amiga. Vamo-nos divertir à grande.
E juntos viveram felizes para sempre.
Trata-se de uma pequena e encantadorazinha fábula, se ignorarmos o facto de que os personagens principais não são animais, mas sim corpos celestes, partículas de água no estado gasoso em suspensão na atmosfera e a própria da precipitação. Logo por aqui, a situação é estranhíssima. Isto porquê? Primeiro, porque as nuvens e o Sol se encontram a, aproximadamente, 149.599.996 quilómetros de distância, portanto, e considerando que eles teriam a capacidade de se comunicar, nem com os melhores altifalantes do Universo se conseguiriam falar. Segundo, porque uma relação entre o Sol e uma Nuvem seria altamente tóxica para a Nuvem: a temperatura no Sol é de 5499ºC. Ora, neste ponto, e em termos científicos, o vapor de água sofreria um processo denominado ionização, em que os eletrões se separam dos átomos, o que a faria comportar-se como um plasma (e não, não me estou a referir a televisões de alta-definição!). Desta forma, não seria sequer possível a existência de nuvens perto do Sol, o que tornaria difícil uma amizade entre eles!
Outra questão que me inquietou foi o facto de o suposto filho da Nuvem estar a chorar porque se assustou com a chuva, visto ter nascido na véspera daquele episódio. Quer isto dizer que a Nuvenzinha era, na realidade, um recém-nascido, mas que a sua mãe, Sra. Dona Nuvem, já estava a descansar com o Sol, longe do filho. Não sei se sabe, Sra. Dona Nuvem, mas está previsto, no artigo 138º do Código Penal Português, que o abandono de menor com menos de 12 anos é um crime punível com até 5 anos de cadeia! Mas suponho que isso não deve existir, aí na atmosfera. Dá-me impressão que o que prevalece é a “Lei da Selva”! Parece que não valeu de nada, ter-se andado a perder tempo, naquele 20 de Novembro de 1959!...
Por fim, quero demonstrar o meu apreço por uma das personagens da rábula: a Chuva. No meio daquilo tudo, foi a única que satisfez a curiosidade do Sol, tendo tido a decência de lhe responder. Eu sempre gostei de chuva! Para mim, dias de chuva são dias de esperança. São dias de calmaria, porque ninguém gosta de andar à chuva. São dias de reflexão, porque o som da chuva batendo na janela e o aroma a terra molhada acabam por ser terapêuticos. São dias em que a mãe Natureza nos faz ter consciência da nossa pequenez, quando inunda a baixa Lisboeta, por exemplo, e destrói tudo aquilo que nós perdemos tempo a construir. São dias em que eu me revejo, porque o clima incerto e tempestuoso funciona como um anestésico para o temporal que me vai dentro do peito. De uma forma bastante metafórica, mas ao mesmo tempo bastante literal, os dias de chuva servem para nos lavar a mente e a alma. E a eles estou eternamente grato! Já ao filho da mãe do vento, que nunca fez nada por ninguém, eu só desejo mal! Porque esse bandalho, para além de ser incómodo, ainda destrói os guarda-chuvas dos incautos cidadãos que, como eu, só desejam apreciar os seus dias de chuva! Mas isto é tema para outra crónica! Por ora, me despeço com amizade, e até para a semana!